Folha das Folhas da Relva

A fotografa Ana Nitzan sempre foi apaixonada pela natureza. Entre essa qualidade raríssima e assumida – nos tempos em que, para nos, transeuntes das grandes cidades, nos acolhe ver o por do sol nos reflexos dos vidros fumes nos gigantescos edifícios, cada dia mais laminados -, e o olhar que agora esse conjunto de imagens nos revela, não existe distancia alguma.

Ana não saiu do lugar para fotografar as arvores que plantou, riscando um caminho, ao lado da sua família, nas terras onde viveu seu pai, hoje presente em sua memória, e onde hoje vivem seus filhos, numa mesma proposta à grande arvore da vida.

Não saiu do lugar, simbolicamente, porque é entre essa irmandade de pau-ferro que ela vive, deita, rola, vê o céu de baixo para cima, inverte os troncos de ponta-cabeça, brinca de criança (…como se não gostasse de enganar a psicanálise), e faz suas fotografias.

Como é louca pela natureza, posto e dito, outra vez, criou uma mitologia de signos onde masculino e feminino se encontram e, segundo ela mesma, a fizeram “me encontrar”: suas imagens guardam um sexo em liberdade, como se sexo não existisse, como se homem+mulher fosse igual a nos mesmos, um outro sexo, esse menino, essa menina, e se existe, sim, é assim que ela os vê, sente, imagina, facilita, percorre.

Hermes & Afrodite é um ensaio delicadíssimo, em preto e branco, fininho para olhares finíssimos, leve como uma folha de outono flutuando entre a distancia que se solta, lá do alto, e outra, que a aproxima desse firme (firme?) caminho aqui na terra.

 

Diógenes Moura

Curador

(“Folha das Folhas da Relva”, licença poética em Walt Whiteman)